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Arame Farpado

Embora exista ainda um preconceito envolvendo a utilização do arame farpado nas cercas para cavalos, uma pesquisa vem apontá-lo como o material mais usado no país por apresentar baixo custo e fácil manutenção.

Diferente do que acontece nos países mais desenvolvidos onde o arame farpado possui fama de perigo iminente para cavalos e nem mesmo se admite a hipótese de usá-lo como cercamento, pode parecer, no mínimo, curiosa a sua popularidade entre os criatórios brasileiros. Se fizermos uma viagem de carro para qualquer canto do país e pudermos observar o tipo de cercamento utilizado em propriedades rurais, provavelmente chegaremos a seguinte conclusão: 80% das cercas são de arame farpado. Isto acontece por motivos simples, independente do poder aquisitivo do criador ou proprietário de cavalos, a economia brasileira atual, forçosamente faz com que se tenha de minimizar os custos, replanejar investimentos e também pensar na manutenção de uma infra-estrutura adequada. A principal vantagem da utilização do arame farpado em relação a outros tipos de cercamento é, sem dúvida, o custo. Entretanto faz-se necessário desmistificar o perigo atribuído a estas cercas, referente aos acidentes ocorridos com animais. Muitos ainda hoje acreditam que o arame farpado é o cercamento mais agressivo aos cavalos: mas até que ponto isso e verdade?

Um tradicional criador de Mangalargas comenta que durante a Estação de Monta costuma receber em sua propriedade um número aproximado de 330 éguas, e que no prazo de dois anos presenciou apenas um pequeno contratempo com sua cerca de arame farpado: “uma égua se enroscou num pedaço de arame e tive que fazer um curativo no corte superficial”.

A possibilidade de um acidente num haras está sempre presente, seja qual for o tipo de cerca. Porém, as conseqüências dos ferimentos ocasionados pelo arame farpado têm-se provado, estatisticamente, menos drásticas do que as do arame liso; nas mesmas condições de perigo e manutenção.

O poder de contenção do arame farpado se demonstra muito maior, pois conta com o fator psicológico. O cavalo encosta, sente espetar (é avisado) e acaba recuando. Isto vai ensinando-o a não se aproximar muito da cerca. Já com o arame liso, não existe tanta sensibilidade; o animal não respeita a cerca como um obstáculo e num momento de susto ou descuido pode acabar se encontrando em encrencas sérias. O arame liso solto e sem balancins toma-se perigo verdadeiro para o animal. Por não possuir as farpas, o arame liso desliza solto pelo couro do cavalo, podendo promover (dependendo da força empregada pelo animal) cortes rápidos, contínuos e profundos. Nesses casos os cortes podem levar à conseqüências desastrosas como rompimento de tendões, de ligamentos e outros ferimentos que podem deixar seqüelas. Com o farpado, por mais que o cavalo se enrosque, se prenda e lute para se livrar, o arame não consegue penetrar tão profundamente no animal e devido as farpas e especialmente a sua menor resistência, os ferimentos provenientes desses confrontos têm-se mostrado, na maioria das vezes, sensivelmente mais leves.

Para quem trabalha com cavalos de performance e conformação, o arame farpado apresenta um inconveniente: deixa cicatrizes e o pêlo feio com arranhões. Cavalo adora andar rente à cerca.

Os principais acidentes com cercas ocorrem geralmente por descuido, falta de manutenção e manejo incorreto. As partes mais atingidas são as pernas, especialmente boletos. Um dos riscos oferecidos pelo arame farpado acontece quando o animal coça a cabeça na cerca, colocando os olhos próximos às farpas. Podemos citar alguns relatos de fatos que tiveram finais diferentes e demonstram a iminência do perigo em situações das mais diversas: “Era final de tarde, quase noite, e o nosso Árabe havia escapado para um piquete bem grande, enquanto criava encrenca com um dos nossos cães. Finalmente os dois desistiram da brincadeira, ou melhor, o cão se cansou, e conseguimos chamar o garanhão para recolhê-lo. O piquete era cercado com 3 fios de arame farpado e, na verdade, ele nunca havia entrado ali. Logo que assobiei percebi o que estava para acontecer; ele disparou na minha direção e como já era quase noite não percebeu a cerca. O impacto foi forte, pude observar que ele dava um giro por cima de sua cabeça e caía no chão. Pensei que tivesse quebrado o pescoço, mas ele levantou rapidamente, em pânico, e disparou para o outro lado, chocando-se novamente contra a cerca. Eu com na sua direção e desta vez ele manteve a calma, ficou esperando que eu o livrasse do arame. Foi uma experiência horrível, mas, acredito que se a cerca fosse de um arame mais resistente, pela velocidade do cavalo e pelo impacto, as conseqüências teriam sido bem piores.”

“Certa manhã ao sair das cocheiras ouvi relinchos que denunciavam problemas. Corri para os piquetes e percebi que uma das potras do piquete das éguas paridas havia rolado por debaixo da cerca e estava do outro lado, no piquete dos desmamados. Não sei por que motivo começaram a correr, forçando a potrinha a correr junto com eles. E o pior, é que corriam pelo lado de dentro da cerca. Entrei no piquete e contive os animais no canto da cerca quando a mãe da potra se aproximou. Entrei pelo meio da tropa e levei-a até a mãe através das porteiras. Felizmente, ela só estava assustada e cansada.”

INVESTIMENTO RACIONAL

É interessante lembrar que o Brasil é um país de extensas áreas e as propriedades rurais aqui, são as maiores encontradas em quase todo o mundo. As cercas podem apresentar várias finalidades como delimitar, subdividir ou proteger áreas e é preciso definir sua função, além de durabilidade, segurança e economia. Além de se escolher um material de preço mais acessível, seja qual for o tamanho de sua propriedade, é importante tentar obter uma infra-estrutura funcional e mais barata, descobrindo onde é possível reduzir os custos e maximizar resultados.

Evite gastos desnecessários e pense na construção de uma cerca como um investimento e não como uma despesa a mais na propriedade. As cercas são quase sempre definitivas e por isso devem ser construídas de forma correta e com materiais de qualidade. Caso contrário, exigirão gastos elevados na sua manutenção. Antes de adquirir o material, verifique o tipo de solo e variações do terreno. A altura ideal da cerca para eqüinos é de 1 ,70m, e quando de arame, devem ser usados até sete fios. Entre dois piquetes é interessante usar três fios e nos corredores ou locais mais movimentados, quatro fios. E preciso realizar uma revisão periódica, verificando se não existem fios arrebentados. De seis em seis meses deve-se passar (novamente) óleo queimado pré-aquecido nos mourões para evitar o apodrecimento da madeira. Em terrenos com solos arenosos deve-se vistoriar com maior freqüência.

O cavalo é um animal extremamente curioso e é justamente essa curiosidade que possibilita os acidentes junto às cercas.

Se ele enxergar um tipo de gramínea que lhe agrade, do outro lado da cerca, terá vontade de ir lá conferir.

Por isso é interessante evitar os acidentes pensando em manejo, nas coisas mais simples na rotina do haras. Procurar limpar a área ao redor dos piquetes e das cercas, proporcionar um bom pasto dentro do piquete, para que os animais não se sintam atraídos pelo que está do lado de fora; não colocar dois garanhões em pastos contíguos; evitar piquetes de éguas próximos ao do garanhão; adotar um desmame racional, evitando que o potrinho acostumado na baia, se veja livre e corra de encontro à cerca. Em geral, um bom manejo evita muitos acidentes com cercas. Lembre também de fazer o isolamento elétrico, enterrando as pontas do arame no chão, e providenciando isolamento entre os mourões.

Um conceituado criador de cavalos afirma que só usa o arame farpado em sua propriedade e que prefere o arame mais fino. “ O arame mais fino tem uma durabilidade menor, arrebenta mais facilmente, enferruja rápido e a manutenção fica um pouco mais caro, pois tem de ser trocado com maior freqüência, porém, vale a pena, porque se o animal força a cerca ou se enrosca, o fio quebra logo e não chega a feri-lo.”

Para definir a cerca de arame farpado podemos dizer que: barateia os custos, e de fácil manutenção e cumpre bem sua função, quando devidamente utilizado, pois intimida o animal sem agredi-lo.


O PODER DE CONTENÇÃO DO ARAME FARPADO SE DEMONSTRA MUITO MAIOR. POIS CONTA COM O FATOR PSICOLÓGICO. O CAVALO ENCOSTA, SENTE ESPETAR (É AVISADO) ACABA RECUANDO.


Fonte: Arquivo Revista Horse Business
Texto: Mara S. Iasi
Colaboração: Adriana O. Bittencourt

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