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O haras - sítio

“Roubei” o termo acima da amiga Claudia Leschonksi. Quantos destes você conhece? Eu, muitos. São sítios pequenos, de proprietários que passam os finais de semana no tripé piscina - campo de futebol – churrasqueira. Um belo dia um amigo convida para um leilão de cavalos. Este amigo já é um participante do mundo dos cavalos, possuindo exemplares no seu que já é um Haras-Sítio. Lá vão todos, em uma noite quase que de gala, ambiente agradável, comidas e bebidas de leilão, pessoas interessantes, e um ambiente propício para a aquisição de um cavalo. Começa o espetáculo, e lá pelas tantas entra no palco ele... Preto, grande, forte, gordo, crinudo, montado fazendo evoluções incríveis.

Encanta a muitos e os lances começam a pipocar. Para encurtar a historia, o cavalo vai para o mais novo Haras-Sítio do Brasil. O tal cavalo é um garanhão. E, com a aquisição de um garanhão, vale a pena, segundo amigos do novo proprietário, encontrar uma égua para este garanhão, e passar a viver então no “mundo encantado e glamoroso dos criadores de cavalo”.

A pessoa volta para casa no domingo, e durante a semana conta aos amigos que na sexta tem que ir ao “haras”, que na verdade é um haras-sítio..., já que somente uma cocheira foi erguida para o príncipe negro e seu harém. Nada de comida de qualidade, nada de pessoal especializado, já que o caseiro que limpa a piscina cuida dos cavalos! E, a partir dos acasalamentos, a sensação de ser um dono de haras vai aumentando, até que uma pequena coleção de cavalinhos começa a tomar conta da paisagem e, a seguir, as necessidades destes cavalinhos, como veterinário – que é o mesmo que atende a cachorrada do sitio – antes de ser haras-sítio, afinal, “ele não é veterinário?”

É chegada a hora de pagar a associação de raça, afinal, criar sem registrar “não dá retorno”. E, juntamente com cavalos registrados, entram os boletos enviados pela associação, pela casa agropecuária, dos medicamentos, do feno e as contas do ferrador, etc. O jardineiro, que antes tinha que cortar a grama, limpar a piscina e gelar a cerveja, agora se vê louco com potros, éguas e o “cavalo preto maluco”, que, por ser garanhão em um local sem espaço, fica confinado, olhando as éguas – portanto, nunca é solto, já que o jardineiro tem medo dele... Sexta feira vem a família dona do Haras-Sítio.

Chegam os carrões, com mais alguns amigos que vieram “passar o fim de semana no haras”. Dão uma olhada no “haras”, enquanto o jardineiro acompanha tudo contando a semana de emoções que teve, com garanhão querendo cobrir todo mundo, potros que cortaram na cerca, ração que não chegou. O dono e seus logo vão para o churrasco, esquecendo de tudo isto. Sábado de manhã, uma passada pela cocheira do Haras-Sítio, o dono pede para o jardineiro tirar “o cara” da cocheira... Sai o tal cavalo de dentro, com um cabresto de corrente e o jardineiro dando trancos, levando pisadas no pé e já adiantando a todos que o cavalo é muito perigoso – e é mesmo...

Em cinco minutos o cavalo “está visto”. O calor aumenta, o sol esquenta e o cheiro da cocheira incomoda a todos, que voltam para a “sede do haras”. Piscina, futebol e churrasco no haras passam a ser o tema da semana seguinte para todos. Para o dono do Haras-Sítio, que se acha criador de cavalos de dono de haras, para os amigos que são “amigos de dono de Haras”. Os cavalos? Além de sofrerem, não viverem bem, para piorar tudo, são os xodós da dona, que nunca os vai vender, pois ama a todos como filhos... Essa é, mais ou menos, a vida do Haras-Sítio. Você conhece algum?


Aluísio Marins, MV
Universidade do Cavalo
www.universidadedocavalo.com.br

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