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Banco de Plasma

Revolucionária técnica que pode tornar o seu animal mais sadio. Saiba como e quando utilizá-la para obter melhores resultados.

Diferente do que acontecia no passado, onde as patologias eram tratadas apenas quando se manifestavam no animal, hoje em dia você já pode cuidar do seu cavalo utilizando modernos métodos de prevenção contra doenças.

Alguns deles, além de trazer inúmeros benefícios para o cavalo, poderão ser também menos onerosos para o proprietário, como é o caso do plasma. Além de possuir diversos fatores de coagulação, vitaminas, enzimas e sais, o plasma contém ainda grande quantidade de proteínas, que desempenham papel decisivo no tratamento e prevenção de várias patologias.

Há aproximadamente 7 meses foi criado o primeiro banco de plasma a nível comercial do Brasil. Os animais doadores são selecionados baseado em um protocolo, onde primeiramente devem apresentar boa saúde, serem negativos para AJE e submetidos a uma eletroforese, teste que fornece a quantidade de proteínas do sangue, para saber se têm boa resistência à doenças, ou seja, se são bons produtores de anticorpos. Aqueles que produzem boa quantidade de anticorpos são escolhidos para programas de vacinação contra várias doenças, e após alguns meses a maioria deles estará produzindo plasma com alto teor de anticorpos contra estas mesmas patologias Os doadores que produziu o plasma para potros são ainda vacinados contra Influenza, Encefalornietite, Tétano, Rhinopneumonite e Rotavirus, sendo o nível de proteínas monitorado regularmente por eletroforese.

O sistema de coleta é totalmente fechado, sem que haja contato com o ar, o que impossibilita a contaminação do mesmo, e não se acrescenta aditivos, exceto anti-coagulante. As bolsas são centrifugadas em centrífuga refrigerada, o que possibilita uma contaminação mínima de hemácias. O plasma é imediatamente congelado após separação, a uma temperatura de 20 graus negativos, e pode ser mantido em congelador por 3 anos.

A Dra, Claudía Ehlers Kerber, responsável pelo Banco de Plasma, diz que não há nenhuma contra-indicação na administração do plasma em eqüinos, mas recomenda seu uso somente se for necessário, por exemplo, em casos onde o potro recebeu o colostro e este não era de boa qualidade.

O que é o Plasma

O plasma é a parte líquida, coagulável do sangue e da linfa (líquido de cor branco-amarelado ou incolor, de composição qualificativa semelhante à do plasma, variando sua constituição de acordo com a intensidade do metabolismo). Ele carrega diversos tipos de substâncias vitais, entre as quais, enzimas, vitaminas, sais minerais e principalmente, as proteínas. No banco de plasma são trabalhados basicamente dois tipos de proteínas: a albumina e a gamaglobulina (que nada mais é do que o grupo de anticorpos responsáveis pela defesa do animal).

A albumina é a proteína do sangue que mantém a pressão arterial dos animais. Ela tem alto peso molecular e é capaz de aprisionar dentro dos vasos sanguíneos grandes quantidades de líquido mantendo assim a pressão arterial. A esta propriedade de aprisionar líquidos, chamamos de pressão oncótica.

Existem doenças que causam perda de albumina, por exemplo, diarréias muito fortes, cólicas por gastro-enterites, doenças do fígado, entre outros. A perda de proteínas nestes casos leva a níveis muito baixos no sangue (3 a 4 g dl de proteína total) de tal forma que o sangue perde a capacidade oncótica e o animal entra em choque e morre.

Com a administração do plasma pode-se melhorar o nível de proteínas e reestabelecer a capacidade oncótica do plasma do animal, mantendo assim a pressão arterial. Desta forma, o animal terá tempo para se reequilibrar, e sua vida estará salva.

Outros exemplos de perda significativa de albumina são lesões renais graves, pleurisias e distúrbios hepáticos severos, mas neste último caso existe a falta de produção de albumina pelo fígado. A plasmaterapia poderá ser indicada até que o organismo se equilibre novamente, pois a reposição de proteínas em larga escala é crítica para a sobrevivência do animal.

O grupo das gamaglobulinas, conhecidas como anticorpos, desempenham também um papel de grande importância para o bom funcionamento do organismo. Estas proteínas são responsáveis pela defesa do organismo contra diversos tipos de agentes causadores de doença, que podem ser vírus, bactérias, fungos, etc.

As éguas possuem um sistema muito peculiar de transmitir ao recém-nascido os anticorpos, fundamentais para a sobrevivência do potro. Enquanto nos seres humanos os anticorpos são transmitidos pelo cordão umbilical e passam através da placenta para a circulação do bebê, a placenta da égua não permite a passagem de anticorpos. A única maneira de o potro conseguir os anticorpos é mamando o colostro nas primeiras horas de vida. O colostro é o leite produzido pela mãe no momento do parto, ele é amarelado e mais rico que o leite comum, especialmente em anticorpos. Desta maneira, qualquer falha neste complicado mecanismo de transferência de anticorpos poderá ser fatal para o potro, o mais preocupante é que esta falha é comum e poderá acontecer com qualquer égua. Por exemplo, se o parto for prematuro, a égua não terá tempo para produzir o colostro, já se o parto for demorado, a égua poderá começar a perder o colostro antes de o potro mamar. Se o recém-nascido for fraco, ou tiver algum problema, e não tenha mamado o colostro durante as primeiras 12 horas de vida, de nada adianta, pois ele não absorverá mais os anticorpos após este período de tempo, já que o sistema digestivo após o primeiro dia de vida deixa de ter capacidade de absorção das moléculas de anticorpos. Caso a égua morra, e o potro não tenha acesso ao colostro, outro tipo de leite não servirá para a mesma função (a não ser que se tenha guardado no freezer colostro de égua). Em todos os casos citados, se o recém-nascido não receber o plasma com os anticorpos vitais, terá somente 30% de chance de sobreviver, e a probabilidade de contrair infecções graves será muito grande, afirma a Dra. Claudia.

Qualquer tipo de plasma poderá servir para salvar o potro, mas o laboratório Paddock, localizado no Jockey Club de São Paulo, desenvolveu uma técnica para inocular diversas vacinas contra as principais doenças dos potros, tornando assim o plasma com alto teor de anticorpos, chamado de plasma hiperimune. Este plasma garantirá ao potro os anticorpos necessários para se defender de todas as principais doenças neonatais.

Mas o ponto crítico da produção do plasma hiperimune está no fato de que nem todos os doadores respondem bem aos estímulos antigênicos, por exemplo, um grupo de possíveis doadores vacinados contra determinada doença, apenas 20% deles respondem e mantém os níveis mínimos aceitáveis de anticorpos.

Tipos de Plasma

Desta maneira, inoculando os doadores, o laboratório conseguiu preparar vários tipos de plasma, para diferentes aplicações, entre eles:

- Plasma normal (PN), foi desenvolvido para a reposição de proteínas em larga escala, indicado para casos onde se necessita reestabelecer a pressão oncótica do animal.

- Plasma com alto teor de proteína (PP), é indicado para potros que tiveram uma falha parcial ou total no ato do recebimento de anticorpos maternais (colostro). Estima-se que aproximadamente 20% dos potros normais possuem falha parcial na transferência da imunidade, mas este percentual é muito maior se o potro tiver algum problema.

- Plasma de doadores inoculados contra agentes Gram negativos (PS), as bactérias gram negativas Samonela, Eischerichia coli, e ainda a Klebsiefla, são as principais responsáveis pelas diarréias e septicemias dos recém-nascidos. São geralmente infecções graves e muitas vezes fatais. O plasma hiperimune PS poderá ser administrado em haras que apresentam estes tipos de infecções com freqüência, minimizando o risco do potro ficar doente. Ele poderá também ser usado no tratamento, neste caso funcionando como agente neutralizante das endotoxinas e bactérias. O princípio deste plasma é o mesmo da aplicação do soro antitetânico (substância que evita ou combate o tétano) ou do soro antiofídico (substância que combate o veneno de cobra), estes soros possuem alto nível de anticorpos, sendo capazes de neutralizar as toxinas, salvando a vida da pessoa.

- Plasma de doadores inoculados contra Rhodococus equi (PR), responsável pela morte de 3% dos potros com menos de 6 meses em todo o mundo, o vírus é o causador de um tipo de pneumonia grave. Plasma hiperimune deverá ser utilizado em fazendas que apresentam ou já apresentaram animais com esta doença, como auxiliar no controle de surtos, juntamente com um programa de vacinação, sendo capaz de evitar grandes prejuízos.

Somente cerca de 30% dos doadores respondem às vacinações com nível adequado de anticorpos, por esta razão é preciso que haja um acompanhamento constante do plasma hiperimune.

Casos indicados

Potros que apresentam nível mínimo de IgG de 600 mg/dl, são conhecidos com o potros imunodeprimidos, que não receberam o colostro, ou receberam parcialmente, ou ainda este era de má qualidade. Qualquer atraso ou falha neste mecanismo poderá deixar o potro predisposto a infecções ou septicemia, pois seu organismo possui pouca defesa.

Nestes casos, o tratamento com plasma é muito indicado por veterinários, que recomendam a complementação logo nos primeiros dias de vida, para que o animal não corra riscos de contrair infecções.

Sendo assim, o plasma a ser administrado não precisa ser necessariamente hiperimurie, mas quanto mais concentrado ele for, menor será a quantidade a administrar. Além disto, é muito usado em potros saudáveis (1 litro dependendo do título) na prevenção de doenças. Casos de septicemias e endotoxemias podem ser tratados com plasma hiperimune contra salmonela (15), E. Coli e endotoxinas.

Para potros com problemas na transferência de imunidade, deve-se administrar o plasma tipo PP, de 1 a 2 litros, dependendo do teor de anticorpos, que deverá vir indicado. Poderá ser usado o plasma normal, mas neste caso serão necessários de 4 a 5 litros, afirma Dra. Claudia. Vários veterinários recomendam a aplicação de plasma em potros que irão viajar para outros haras, como método preventivo. Supondo-se que este potro recebeu o colostro adequadamente, recomenda-se apenas 1 litro do plasma PP para fortalecer as defesas de seu organismo. Caso o haras para o qual este potro for enviado tiver problemas com diarréia ou Rhodococus, o que é comum em propriedades que recebem grande número de éguas para cobertura, deve-se dar para o animal plasma tipo Ps ou PR.

Haras que apresentam problemas de pneumonia por Rhodococus a melhor solução é evitar a infecção, pois além do tratamento ser caro, a doença é altamente fatal, e mesmo se o potro se recuperar haverá danos permanentes no tecido pulmonar, diminuindo a habilidade individual do cavalo.

Normalmente os veterinários indicam a vacinação das éguas antes do parto, associado ao uso do plasma hiperimune no potro. Poderá ser administrado aproximadamente 1 litro antes de 5 dias de vida, mas vale ressaltar que dependerá da quantidade de anticorpos presentes no produto (deverá vir indicado), devendo haver um reforço aos 21 dias.

Propriedades que apresentam problemas de infecções neonatais, como diarréias e septicemias, o plasma poderá ser usado como método preventivo, ministrando 1 litro de plasma PS logo após o nascimento. Usado também como auxiliar no tratamento, neste caso será preciso uma infusão maior e repetida, pois os anticorpos são consumidos rapidamente.

Animais que apresentam grandes perdas de proteína, recomenda-se uma reposição com plasma normal em larga escala, podendo iniciar o tratamento com 1 a 2 litros para cada 100 quilos de peso e acompanhar a resposta, explica a Dra. Claudia,

O manuseio

Para manusear o plasma é preciso alguns cuidados fundamentais. A Dra. Claudia diz que o plasma deverá ser descongelado somente no momento da sua administração, de preferência aquecido em água morna, a uma temperatura máxima de 40 graus. O aquecimento feito com temperaturas muito altas pode provocar precipitação das proteínas e ocasionar um aspecto floculado; caso isso acontecer, o plasma deverá ser descartado.

Nunca se deve usar um plasma que apresente flocos ou coloração alterada, embora ocasionalmente possam ser encontrados coágulos de fibrina. Plasma contaminado pode ocasionar septicemia e até morte do animal. Antes da administração, é necessário certificar-se da quantidade de proteína e do nível de IgG presentes no plasma; se ele for do tipo hiperimune para algum agente em especial, é necessário assegurar-se que a quantidade de anticorpos é adequada com testes sorológicos.

Desta forma, sabendo-se a quantidade de proteína e anticorpos do plasma pode-se oferecer ao potro a quantidade adequada. Um litro de produto poderá ser dado em 15 a 20 minutos, O plasma deve ser administrado diretamente da bolsa a um equipo que contenha filtro, e nada deverá ser adicionado a ele.


Plasma caseiro ou plasma comercial

Até pouco tempo atrás, a produção de plasma era feita somente pelos próprios haras para consumo interno. Hoje, o laboratório Paddock, especializado em Banco de Plasma, comercializa o produto e todas as pessoas podem ter acesso.

A Dra. Claudia diz que a produção do plasma não é muito complicada para ser feita no haras, mas é necessário que haja o acompanhamento de um profissional, principalmente nas etapas da coleta e na separação do material, que se possível deverá ser feita em centrífugas refrigeradas que permitem uma contaminação mínima do plasma com hemácias. Existem disponíveis no comércio bolsas de coleta próprias para esta função, se possível utilize bolsas duplas com sistema fechado de coleta, embora custem mais, evitam a manipulação excessiva. O plasma deverá ser congelado imediatamente após a separação. A vantagem de se produzir o plasma no local onde ele será usado é que os anticorpos presentes, além daqueles provenientes das vacinas, são contra agentes da própria região. A maior dificuldade de se produzir o plasma num haras está no trabalho de seleção dos doadores, vacinação e acompanhamento da resposta imune, tomando-se imprescindível o monitoramento das proteínas, níveis de IgC e anticorpos específicos, caso contrário, corre-se o risco de administrar um produto sem as propriedades terapêuticas à qual se destina. Já o plasma disponível no mercado apresenta qualidade superior e os níveis de proteína, lgG e anticorpos são conhecidos. Seu custo é de aproximadamente 300/o a mais do que o plasma produzido no haras.

Cada litro de plasma normal custa aproximadamente R$ 15,00 e o plasma hiperirnune cerca de R$ 30,00 (em média ele tem 380 ml cada). Nos Estados Unidos, um litro de plasma normal custa em média US$ 100 e o hiperimune bem mais.


Colaboradora:
Dra. Claudia Ehlers Kerber, vet. lab. Paddock /SP e credenciada pela United States Depart. of Agriculture para a realização de provas de diagnóstico laboratorial no Brasil.

Fonte: Arquivo Revista Horse Business
Texto: Renata Keppe

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