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Dentes e Cia

Examine constantemente os dentes de seu cavalo.

A história não diz quem e quando, mas não há dúvida de que não foi muito depois que os primeiros comerciantes de cavalos começaram a fazer negócio, que alguém descobriu que os dentes dos cavalos ofereciam respostas para muitas perguntas importantes.

Há muitos truques para se encobrir defeitos de um cavalo, mas é praticamente impossível ser menos do que honesto sobre sua idade. Um conhecedor de cavalos sabe que o número, o desgaste, e a falta de alguns dentes, oferece urna clara visão de por quantos anos o animal andou pastando.

Os dentes do potro começam a aparecer na primeira semana depois do nascimento. Primeiro os incisivos centrais e a primeira série de premolares. No final da segunda semana, as próximas duas séries de molares aparecem. A segunda série de incisivos aparece entre a 43 e 6ª semana, e a terceira após seis a nove meses.

Os primeiros dentes permanentes a surgirem são a primeira série de dentes de lobo. Eles aparecem entre os cinco ou seis meses de idade. O primeiro molar permanente aparece no fundo da boca e não repõe nenhum dente temporário. A primeira série vem com cerca de nove a doze meses, enquanto a segunda chega por volta dos dois anos de idade. Os dentes temporários começam a cair por volta dos dois anos e meio de idade e geralmente são repostos por dentes permanentes na mesma ordem em que eles aparecem. Sendo perdidos de modo que os cavalos sempre têm incisivos e molares disponíveis para mastigar sua comida. O processo leva vários anos e geralmente não é completado até os quatro anos e meio de vida do animal. Neste período, ele terá 36 dentes (12 incisivos e 24 molares).

Os dentes atingem seu máximo desenvolvimento em torno de seis anos de idade. Deste ponto em diante vão emergindo da gengiva, proporcional-mente ao desgaste de sua superfície, até a idade de 18 ou 20 anos aproximadamente, quando apenas as raízes dos dentes permanecem na gengiva. Daí em diante, continuam sendo gastos pelo constante atrito, ano após ano.

Adicionalmente alguns animais poderão ter 4 dentes de lobo e quatro caninos. O canino, se aparecer, será atrás dos incisivos e por volta dos quatro anos de idade. Um cavalo que está com seu canino aparecendo, é geralmente irritável, joga fora sua comida e saliva muito. Não são todos os cavalos que tem dentes caninos, e eles aparecem em machos mais freqüentemente que em fêmeas.

Saúde X Dentes

O velho ditado “Cavalo dado não se olha os dentes” não reflete somente um comportamento social, mas também um simples teste para determinar a idade e o valor do cavalo, assim como a credibilidade do vendedor. Nos últimos anos, entretanto, mais escolas veterinárias e treinadores profissionais de todas as raças começaram a dar séria e regular atenção para os dentes dos cavalos, a fim de aprender muito mais do que somente a idade. Muitas pessoas não imaginam o quanto a condição dos dentes e a boca do cavalo podem afetar em seu desempenho, temperamento e saúde em geral.

Enquanto é óbvio que um cavalo que sinta dor quando mastiga não coma muito e perca peso, outros problemas menos diretos são tão sérios quanto este, podendo causar danos irreparáveis se não forem detectados e corrigidos. Quando um cavalo começa a perder peso de repente, repele a cabeçada ou inclina sua cabeça para um lado, a causa do problema pode estar em sua boca. Considerando que o equilíbrio do cavalo começa com sua cabeça, uma língua cortada, um dente inflamado, pode não somente fazer com que de não dê seu melhor, mas resultar em lesões nas pernas devido à maneira com que ele passa a se mover. Cavalos são como bailarinos, e quando suas cabeças não estão corretas, o resto do corpo perderá o equilíbrio.

Muitos problemas relacionados a condição dentária do animal podem, num primeiro momento ser confundidos com desvios de comportamento.

Quando um cavalo agita sua cabeça e repele a embocadura, pode ser um sinal de que a mesma está agravando um problema da boca e causando mais dor ao cavalo. Ninguém pode esperar que um cavalo aproveite e aprenda com seu treinamento, quando está tendo dores constantes.

Nivelamento

Alguns minutos para checar e corrigir a condição dos dentes pode poupar agonia ao cavalo, tempo ao treinador e criador, e especialmente, evitar a agravação de problemas. Há veterinários que trabalham para assegurar que os dentes dos cavalos que cuidam sejam pares e simétricos, limando as irregularidades e pontas, para assegurar urna superfície de mastigação lisa. Neste processo chamado nivelamento, somente as partes ásperas e irregulares que desenvolvem-se nas bordas dos molares são removidas, sendo que estas bordas afiadas causam grande desconforto, e além da dor na mastigação, podem causar cortes na língua e nos tecidos moles dentro da boca. Para este trabalho, usam-se diferentes e variadas limas e grosas feitas de tungstênio, em uma média de 6 por cavalo.

Quando o processo é feito corretamente, não deve haver dor ou perda de sangue. Os cavalos, assim como os humanos, têm nervos em seus dentes, porém estes são bem mais profundos e distantes da superfície de mastigação. Limar as bordas ásperas não causa nenhuma dor; entretanto especialistas não recomendam que os proprietários façam isto com seus cavalos. Para este trabalho, é necessário que haja muita experiência e se saiba o bastante para trabalhar rápida e seguramente; caso contrário, há risco de prejudicar tanto a si próprio quanto ao cavalo. Dentes com base desnivelada podem causar problemas ainda mais sérios para o cavalo. Faça da checagem dentária completa parte das visitas regulares do seu veterinário. Recomenda-se limar os dentes do cavalo num intervalo de seis meses a um ano; certos animais podem requerer uma atenção mais regular.

Muitos cavaleiros alegam nunca ter prestado atenção nos dentes de suas montarias, e jamais tiveram problemas. Para os veterinários de uma maneira geral, o fato sobre isto continua sendo de que a boca do cavalo precisa ser mantida em boas condições, para que se tenha um bom desempenho em todos os aspectos da vida do animal.

Potros com dentes afiados, durante a mamada proporcionam dor para égua lactante. Uma pequena limada pode prevenir o desconforto da mãe e assegurá-lo de um sustento adequado de leite

Dentes de lobo?

Ter um dente de lobo é algo natural para um lobo; ter dentes caninos é uma grande vantagem para os cães. Mas por que um cavalo deveria ter ambos, dentes de lobo ou caninos? Cavalos são herbívoros, comedores de grama, e precisam de dentes adaptados para embocaduras e para mastigar gramíneas e grãos.

Como já dissemos o cavalo tem 12 dentes dianteiros, ou incisivos, 24 molares e premolares, 2 deles referidos como dentes de lobo, e pode possivelmente chegar a ter 4 dentes caninos. Ao total, um cavalo pode vir a ter 40 dentes.

Na disposição da boca e em meio a todos estes dentes, os cavalos têm um grande espaço, chamado de barra, que se localiza entre os dentes dianteiros e os das mandíbulas, ou molares.

A descoberta deste calcanhar de Aquiles anatômico permitiu ao homem usar suas mãos relativamente pequenas para controlar um animal dez vezes mais forte. Colocando uma embocadura no cavalo, o homem exerce uma pressão nas gengivas sensíveis da barra. Este sistema de controle tem funcionado nos últimos 4.000 anos.

As barras existem nas mandíbulas superiores e inferiores de todos os cavalos. Alguns cavalos, entretanto, têm dentes caninos localizados nas barras logo atrás dos últimos incisivos, O surgimento destes caninos é uma característica ligada ao sexo, o que significa que somente os machos os desenvolvem. É tido como regra, que a aparição destes dentes nas duas mandíbulas significa que o cavalo atingiu sua maturidade (cinco anos de idade).

Ainda que atualmente eles não tenham nenhuma função, cientistas especulam que, durante algum período pré-histórico, cavalos machos se beneficiavam pela presença de dentes caninos, talvez quando lutando com outros cavalos. Hoje tudo que devemos saber sobre os caninos é que, se a embocadura for colocada apropriadamente na boca do cavalo, o dente canino não irá interferir em sua ação, nem o cavalo poderá usá-los para mordê-la.

Infelizmente, este não é o caso do dente de lobo. Este é um dente que demora a cair, ou nunca chega a cair. Naturalmente pequeno e pontudo, se situa imediatamente na frente dos molares superiores. Quando o cavaleiro puxa as rédeas, a embocadura na boca do cavalo desliza para trás através das barras e bate neste sensível dente causando desconforto. Quando há o dente de lobo, muitos cavalos parecem que lutam com a embocadura. Eles elevam suas cabeças, tentando escapar ao contato da embocadura, ou mordem e mastigam a embocadura; todos são esforços tentando rejeitar a pressão.

Embora estas ações sejam comuns em cavalos que não tenham sido treinados propriamente para aceitar a embocadura, a presença do dente de lobo não é sempre reparada, podendo ser uma causa adicional destas atitudes de defesa.

Cavaleiros rurais, especialmente aqueles de tradição espanhola, considerando que este dente criava um problema, planejaram programas de treinamento para evitar a situação. Para o treinamento de cavalos jovens, haviam três opções. Esperar até que o cavalo fosse maduro o suficiente para perder os “dentes de leite” causadores do problema. Começar a treinar com um aparelho que não tivesse embocadura, como um hackamore. Ou conformar-se em ter um cavalo que aceitasse mal a embocadura. A escolha mais comum seria começar com o hackamore, que ajudaria a reduzir o medo do cavalo em ser machucado na boca.

Em tempos recentes, outra opção surgiu: a remoção. A raiz do dente de lobo é rasa, e sua remoção é relativamente simples; um veterinário dá um pequeno golpe com uma ferramenta parecida com o formão colocada na base dos dentes. Contudo, se a opção um (esperar que o dente caia) é a escolhida, é importante saber que há variações consideráveis entre os cavalos quando a perda ocorre. Muitos cavalos perdem seus dentes de lobo com três anos de idade, mas um cavalo com 8 ou 10 anos de idade pode reter estes irritantes premolares. Como uma complicação adicional, às vezes só um dente cai. Em raras ocasiões, estes pequenos dentes podem permanecer embaixo da superfície da gengiva, causando uma irritação escondida porém predominante.

Muito mais atenção deve ser prestada na boca do cavalo. A comunicação e controle ganhos através de contato com partes sensíveis da boca, pode ser perdida por não se remover o dente de lobo. Todo cavalo sendo montado com uma embocadura deveria estar livre do dente de lobo.

Para se retirar o dente de lobo, a maioria dos veterinários usa um alicate com extremidade cortante, fazendo uma incisão na pele da borda do dente. Uma vez que o mesmo está frouxo é retirado com os dedos ou um extrator, o que é fácil devido à raiz curta. Se o cavalo se mover, o veterinário se move junto a ele, não é natural para um cavalo ficar perfeitamente parado quando este tipo de trabalho está sendo feito.

A importância principal dos cuidados com os dentes do cavalo é muitas vezes uma evidência dolorosa no fim de sua vida. As conseqüências do mau aproveitamento de sua ração devido a má condição e desgaste dentário, faz com que alguns cavalos emagreçam e fiquem debilitados, podendo até morrer devido apenas à falta de cuidados com os seus dentes. Quando se perde um molar, o relativo a este, ao qual tinha contato continua crescendo e em alguns casos tem que ser controlado ou retirado, pois pode continuar crescendo até a gengiva oposta.

Determinação da idade

Fazemos a determinação da idade analisando os incisivos, que são os dentes da frente (seis superiores e seis inferiores) do cavalo. Os dois incisivos centrais são denominados de pinças, o par seguinte de médios, e os laterais de cantos. Dos dois aos cinco anos de idade, a determinação da idade é mais objetiva, pois se dá pela diferenciação dos dentes de leite e dos permanentes, o que é muito simples, pois os dentes de leite são menores, mais brancos e sem os sulcos e irregularidades característicos dos dentes permanentes do eqüino.

Os incisivos decíduos (deleite) começam a cair aos dois anos e meio, a razão de um par por ano. Assim, o potro aos dois anos tem todos os incisivos decíduos, aos dois anos e meio os permanentes começam a emergir, para completarem seu surgimento quando o animal completa três anos de idade. O mesmo ritmo se repete para os médios dos três aos quatro anos, e para os cantos dos quatro aos cinco. Assim, sabemos que o cavalo que tem a “boca completa” tem cinco anos de idade no mínimo; por convenção, esta idade corresponde também à maturidade fisiológica do cavalo. E ainda entre os quatro e os cinco anos que os “colmilhos” (caninos) surgem, como vimos, geralmente apenas nos machos.

Dos seis aos oito anos continua possível determinar a idade do cavalo com grande precisão, pelo desgaste da mesa dentária, que é a superfície de corte dos dentes. Quando os incisivos nascem, esta superfície se apresenta protegida pelo cometo dentário, que é uma mancha mais escura. A medida que o desgaste dos dentes se inicia, surge o esmalte dentário, de cor mais clara. Assim, se examinarmos a mesa dentária dos incisivos inferiores (visualização mais fácil que os superiores) de um cavalo de seis anos, veremos que as pinças tem uma superfície clara, enquanto que médios e cantos tem superfície mais escura. Já aos sete anos, apenas os cantos ainda tem os cornetos, enquanto que no cavalo de oito anos, todos os incisivos já apresentam o esmalte visível.

Desta idade em diante, a definição exata da idade continua possível, porém depende mais da prática do observado; comparando diversos animais de idades conhecidas. Vale observar, entre outros: a) Sulco de Galvayne é uma reentrância cônica encontrada no dente canto superior, que acaba se tornando escura. Este sulco surge entre os nove e dez anos de idade, e vai descendo pelo dente até voltar a desaparece; pelo desgaste dentário, por volta dos vinte anos. Assim, um cavalo com um início de sulco de Galvayne no alto do dente tem perto de dez anos; no cavalo de quinze anos o sulco se estenderá por todo o comprimento do dente; e lá pelos dezoito anos o sulco terá descido, ficando somente perto da mesa dentária. b) Cauda de andorinha: como os dentes canto superior e inferior não se justapõe exatamente, em determinadas idades surgem estas saliências triangulares nos cantos superiores, onde os mesmos não são desgastados pelos inferiores. Esta formação é vista em três faixas etárias, portanto servindo como dado complementar na determinação da idade: a primeira cauda de andorinha entre sete e nove anos. A segunda entre 13 e 15 anos, a terceira entre 19 e 21 anos de idade. O formato da mesa dentária vai se modificando ao longo dos anos, sempre correspondendo à secção transversal de dente que surge naquela idade, em conseqüência do desgaste (vide ilustração). No potro novo, este formato é oval, para passar a arredondado no cavalo maduro, triangular no cavalo mais idoso, e biangular (oval em sentido longitudinal) no animal geriátrico, quando o dente já se desgastou até o toco. Pela mesma razão o ângulo da arcada dentária - ou seja, a maneira pela qual os incisivos superiores se opõe aos inferiores - se modifica ao longo dos anos.

Do quase reto no cavalo jovem toma-se mais agudo à medida que o animal avança em idade, devido à forma recurva dos incisivos.

Finalmente, cumpre lembrar que todas estas orientações valem para os animais de arcada dentária normal, que não tenham defeitos de conformação nem vícios adquiridos que os levem a um desgaste anormal da mesa dentária.

No animal prognata (mandíbula inferior ultrapassando o maxilar), o desgaste dentário será anormal, bem como no cavalo que tem o hábito da aerofagia (engolir ar apoiando os dentes em superfícies duras).

Em casos excepcionais, também condições de manejo deficientes, tal como o pastoreio em pastagens fracas em solo arenoso, podem levar a um desgaste precoce dos dentes e conseqüente impossibilidade da determinação exata da idade pelos dentes.


Fonte: Arquivo Revista Horse Business – Premium Edition CD 1 e CD2

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