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Armazenagem

Saiba como armazenar e preservar as qualidades do alimento que seu cavalo vai ingerir.

Você resolveu ter um cavalo em seu sítio? Ótima idéia. Certamente terá muitas dúvidas a respeito da manutenção desse animal, mas com o tempo poderá ir descobrindo as melhores maneiras de criá-lo. No entanto, há um fator básico que não pode esperar nem um dia sequer: o que você vai dar de comer a ele’? Como se sabe, os eqüinos são animais extremamente sensíveis às modificações nos alimentos e ao excesso, sendo acometidos por doenças fatais, por isso, todo cuidado é pouco. Não importa se você tem um cavalo ou trezentos, a preocupação quanto à alimentação é a mesma. O proprietário deve prever as condições de qualidade da alimentação do animal e o primeiro passo é decidir o que o cavalo irá comer e como será realizada esta tarefa. Mas existe, porém, um outro aspecto de primeira importância:

como e onde armazenar esse alimento? Toma-se interessante enumerar aqui todas as perguntas que o proprietário deve fazer a si mesmo: onde comprarei a ração? quanto o animal come por dia? por semana ou por mês? que tipo de ração empregarei’? posso fazer a ração no mesmo local onde vou alojar o animal? quais equipamentos necessito? onde guardarei esse alimento? que cuidados devo ter com a ração? como serão os cochos? quanto tempo posso armazenar a ração... e as questões são intermináveis, mas necessárias para um bom planejamento e sucesso.

Muito se discute sobre equilíbrio e valores nutricionais, rações prontas e formuladas e principalmente sobre a busca da qualidade e de baixos custos na alimentação de eqüinos. Mas no dia-a-dia da criação fala-se muito pouco sobre o manejo com a ração, sobre os equipamentos necessários a sua manutenção e estoque, durabilidade e a qualidade permanente dos mesmos. E exatamente sobre esta qualidade permanente que devemos dar atenção, desde o momento da compra e chegada na propriedade até a hora da digestão pelo animal. O criador e o profissional que o assessora, muitas vezes deixam de lado a qualidade da ração depois que a mesma chega à propriedade. Isto significa que de nada adianta comprar rações de ótima qualidade, em locais idôneos, com custos favoráveis, se dentro da propriedade o criador e o tratador não lhe darão a atenção devida, deixando de lado certos cuidados que manteriam a qualidade permanente do alimento.

ONDE ESTOCAR

É muito comum encontrarmos sacos de ração jogados em qualquer canto, colocados diretamente sobre o solo, em locais fechados, escuros e úmidos, muitas vezes de fácil acesso ao cavalo, que sozinho consegue consumir diretamente dos sacos. Outro exemplo de manejo errôneo são rações colocadas junto a produtos químicos, combustíveis, detergentes, etc., que deixam seu odor e as contaminam. Além disso, vemos constantemente galinhas e outros animais sobre o amontoado de sacos, sem falar nos insetos e ratos. Todos estes deixam seus excrementos, contaminando a ração, diminuindo a sua qualidade, colocando em risco a saúde dos animais e trazendo um prejuízo muito alto, pois os cavalos consomem cada grão que encontram à sua frente. Para exemplificar um manejo correto com a ração, podemos começar pelo planejamento do local do depósito, considerando a compra de rações prontas ou de sacos de grãos e complementos (farelos, farinhas, vitaminas, etc.). E preciso estabelecer o tipo de manejo a ser empregado, o tipo de ração (que está interligado ao tipo do animal, categoria, objetivos da criação, época do ano, clima, solo e produção da propriedade). E sempre muito importante a colocação de uma sala de ração próxima à cocheira principal. Isto significa que deve-se ter condições de estocagem em pequenos depósitos de fácil acesso para o homem. E importante lembrar que somente o homem (tratador/criador) pode entrar na sala ou depósito. A sua localização e entrada não devem permitir que algum animal tenha acesso à ração, por isto, essa sala deverá ter uma porta que permanecerá sempre fechada, como também os sacos e caixas de armazenamento deverão ser devidamente fechados.

A sala deverá ter um tamanho razoável, adequado à demanda semanal. O criador deverá realizar um pré-planejamento de consumo e gastos de ração e matéria-prima, que permitirão saber o melhor espaço destinado à ração. O tamanho mínimo e adequado a pequenos criadores é o de 3x3m, exatamente o tamanho de urna cocheira, que poderá, num futuro remanejamento do espaço, ser ocupada por um animal.

ESTRUTURA DO LOCAL

Procure o melhor local para a sala de ração, observando a posição solar, que é fundamental, dando atenção às características do inverno e verão. A incidência de sol sobre a ração deverá ser evitada, mas indiretamente ajuda a secar o ambiente, quando for úmido. Devem-se evitar portas ou janelas recebendo o vento sul (frio e úmido) e jamais colocar banheiros ou duchas laterais às suas paredes, porque é muito comum termos problemas de umidade e mofo decorrentes de infiltrações. Depois de definidos tamanho e posição, é preciso dar atenção a detalhes internos, tais como: teto, paredes, piso, luminosidade, circulação, portas e janelas.

O teto da sala de ração poderá ser o mesmo do restante da construção, levando-se sempre em conta a limpeza, evitando ninhos, pássaros, insetos e ratos. Pode-se colocar um entrepiso à meia altura que servirá de depósito para feno. Esse segundo pavimento poderá também situar-se sobre o escritório, a selaria ou qualquer parte onde o animal não tenha acesso. Deve-se instalar uma escada fixa ou uma comum, mais barata, que acesse a esse depósito. Outra idéia é a colocação de um forro em toda a sala, que poderá ser aproveitado para depósito de feno.

As paredes poderão ser claras e lisas, mas isto não é obrigatório, pois implicará em custos mais altos. Não se deve deixar acumular pó, sujeira e muito menos ração espalhada no chão (ração esta quem em hipótese alguma deve ser reaproveitada). Além disso, deve-se evitar encostar os sacos de ração nas paredes. Se não houver outro jeito, impermeabilize as paredes.

O piso poderá ser do mesmo material das cocheiras, desde que se respeitem alguns pontos: 1 - drenagem adequada através de caimento natural, evitando o acúmulo de água e umidade no ambiente; 2 - deve permitir uma limpeza diária; 3-colocação de estrado de madeira, metal ou plástico, evitando a deposição de sacos diretamente sobre o solo, principalmente quando este for de areia, pois guarda muita umidade e pode estar contaminado; 4-o piso deverá ter um caimento de até 1%, não conter tocas, buracos, ninhos, etc. A sala de ração deverá ter urna janela que permitirá a iluminação natural do recinto, podendo esta ser do tipo basculante, devendo ter unia tela e parapeito (proteção contra ratos), caso a tela não seja fixa. O seu tamanho poder respeitar o da cocheira ou cocheiras do restante da construção, de forma a manter o ritmo das aberturas. Também pode-se fazer pequenas aberturas na parte superior junto à cobertura que servirão para a circulação e renovação de ar, sendo importantíssimo a colocação de tela, que evitará a entrada de pássaros. Deve-se também criar uma exaustão natural através de ventilação entre as cocheiras. Acima da janela deverá existir um beiral, utilizado no restante da construção, de forma a quebrar a incidência direta do sol e da chuva, gerando sombra sobre a janela.

A porta poderá ser do mesmo tamanho das portas das cocheiras, mas inteira, com abertura para dentro ou fora. O ideal é que deixe passar um carrinho de mão. O objetivo principal das aberturas é conseguir um ambiente claro, arejado e seco.

Dentro da sala de ração deverá existir um espaço vazio para facilitar a circulação dentro do recinto. Caso o criador faça a sua própria ração, deverá colocar o maquinário em outro recinto. pois muitas vezes no processo de fabricação da ração produz-se muito pó, prejudicial ao aparelho respiratório do homem e do animal, devendo este processo ser realizado em um depósito maior.

Com relação à iluminação, deve-se buscar a natural, mas sem deixar de fazer uma instalação simples de luz elétrica onde a chave de luz deverá ficar na parte de fora (corredor). Isso facilita a desocupação da sala para a colocação de um animal.

COMO ARMAZENAR

Os cuidados devem ser adequados a cada região e manejo. Deve-se dar atenção ao calor e ao sol, sem esquecer das épocas úmidas, evitando o mofo e o superaquecimento. Todo alimento úmido aquece e mofa depois de armazenado, assim, o grau de deterioração dependerá da temperatura e da umidade relativa do ar, além do tipo de alimento (quantidade de água que possui). O mofo e a fermentação não só modificam o sabor do alimento, como reduzem o seu teor de vitaminas, além de predispor o animal a intoxicações e cólicas.

O criador deve ter cuidado com a qualidade do alimento que adquire ou colhe, observando constantemente a aparência e o cheiro, evitando adquirir alimentos com alto teor de gordura, pois tendem a rançar. É importante armazenar grãos, farelos, feno, etc., em locais secos, de boa ventilação, isento de insetos e sujeira, evitar a mistura de alimentos, ou sementes de diferentes qualidades e não guardar sementes de aparência suspeita. O período de armazenamento de rações prontas não deve passar dos três meses, enquanto que rações produzidas na propriedade dependerão dos seus ingredientes, podendo esse período ser de uma semana a dois meses. Para que a ração dure é preciso um cuidado diário, além da atenção com o local onde ela permanecerá, não a deixando exposta à luz, animais e insetos. Os sacos e caixas devem permanecer sempre fechados.

Observar os hábitos alimentares dos animais também ajuda, porque muitos são os cavalos que desperdiçam a ração, comendo fora do cocho ou espalhando tudo. Com um bom trato e manejo pode-se evitar esses hábitos. Além da atenção aos animais, os cochos deverão ser esvaziados diariamente, lavados e secos semanalmente, evitando vestígios, restos de ração velha.

Todos os alimentos de origem animal são perecíveis e não devem ser armazenados em condições adversas e durante muito tempo, podendo sofrer forte decomposição devido ao calor e microorganismos. Muitas vitaminas, que são nutrientes indispensáveis ao cavalo, são termolábeis; isto significa que são destruídas com o calor, e a sua concentração na ração, feno e alimentos tende a diminuir com o armazenamento. Alimentos que contêm graxa tendem a destruir as vitaminas lipossolúveis, principalmente a vitamina E. Misturas entre minerais, sem o conhecimento correto da nutrição e sua inter-relação levam a carências dos mesmos. Saber combinar corretamente os alimentos, especialmente fibra e concentrado, evitando excessos e fornecendo a ração de duas a três vezes ao dia, trará um melhor aproveitamento.

O método empregado para o processamento de alimentos também afeta a digestão. Muitos cavalos mostram preferência por alimentos sem nenhum preparo, mas animais jovens e velhos têm um aproveitamento superior quando o alimento é processado, devido a sua dentição e aparelho digestivo.

Não se deve permitir que os animais tenham acesso livre a ração ou feno, pois tendem a comer toda e qualquer quantidade que estiver na sua frente, só não conseguindo terminar com toda a ração por apresentar alguma patologia imediatamente, chegando em muitos casos a morte. O criador deve observar com atenção as fezes dos seus animais, cor, consistência e presença de alimentos não digeridos, pois estes detalhes dizem muito a respeito da capacidade do animal e sobre o manejo do alimento.

Algumas deficiências nutricionais não se fazem notar clinicamente e somente com o passar dos anos é que o animal demonstra. Algumas patologias (problemas digestivos gerais, respiratórios, laminite, irritações oculares, micotoxicoses, baixo crescimento e produção, doenças infecciosas, etc.) têm sua origem na ração e no seu manejo. Nem sempre um exame a olho nó permite qualificar uma ração e muitas vezes á perda se dá após a administração ao animal, que não aproveita o seu potencial, devido a contaminações, fermentações e degradações. Os equipamentos envolvidos na produção de ração, a sala de depósito e as ferramentas envolvidas na distribuição da mesma, assim como o tratador, devem estar envolvidos de uma limpeza constante e coleta, pois muitas vezes a contaminação provém de uma destas fontes.

A qualidade da alimentação é fator primordial à saúde do seu cavalo. Portanto, conclui-se que, tão importante quanto a qualidade da ração adquirida numa loja é também, e principalmente, o controle que esse alimento deve receber através de um manejo consciente e uma correta armazenagem, até que chegue à boca do seu cavalo.

* Colaboração dos Arquitetos: Luís Merino Xavier e Evaldo Luiz Schumacker.


Aveia em grão 400-560 kg/m3 10 sacos/m3
Trigo em grão 720 kg /m3
Farelo de trigo 300-400 kg/m3 10 sacos/m3
Milho em grão 670 k /m3 10 sacos/m3
Milha-palha 300-350 kg/m3
Feno solto 50-70 kg/m3
Feno enfardado 160 kg/m3
Ração pronta 25 kg 24 sacos/m3 40k9 l0sacos/m3


Fonte: Arquivo Revista Horse Business
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