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Feno

Por que se preocupar com feno agora, justo quando adentramos no período das águas e os pastos crescem à vontade, não havendo escassez de forrageiras?

Uma das principais características das nossas forrageiras é uma ótima produção na época das águas, em contraste com urna produção quase que insuficiente no período da seca.

Por este motivo, é preciso saber tirar o máximo proveito da generosidade da mãe natureza, durante este período de fartura, garantindo que este excesso possa ser processado e armazenado para os tempos difíceis. A fenação, entenda-se como o processo de desidratação e conservação da forragem no seu estado seco, envolve métodos desenvolvidos e aprimorados, para se maximizar o aproveitamento da matéria verde, buscando manter seu valor nutritivo, alto teor de carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais.

É um processo prático, econômico, de fácil execução. Não envolve processo químico ou fermentativo. A fenação tem como objetivo reduzir o teor de umidade do vegetal de 70% a 80% no natural, para 15% na massa fenada, preservando seu valor nutritivo, maciez e aroma. Para isso a forrageira deverá ser ceifada no estágio que coincide com sua produção máxima, associada ao seu maior valor nutritivo. Na maioria das vezes este estágio precede a floração da planta.

Coincidentemente, a grande maioria das forrageiras atinge esse ponto exatamente entre outubro e março, quando as chuvas são abundantes e tudo está sempre bem molhado. Daí o conceito de que a fenação é uma tarefa difícil de ser realizada, ou colocada em prática, pois seria necessário secar o capim em clima chuvoso, O que geralmente é esquecido, é que apenas dois dias são necessários para que se complete a secagem, e a desidratação pode ser feita em galpões, pelo sistema natural, ou em dessecadores, pelo sistema artificial.

De qualquer forma, considerando que nosso principal objetivo é obter um feno de alta qualidade, devemos nos lembrar que esse processo conserva o valor nutritivo original da planta. Se desenvolvido após o mês de março, devido a praticidade da ausência de chuvas, acaba-se por fenar uma pastagem “passada”, já amadurecida e, portanto, com seu teor nutritivo comprometido. Boa mesmo para a confecção de camas.

FASES DO PROCESSO DE FENAÇÃO

Preparo do Solo o Escolha da Espécie Forrageira

Nas áreas escolhidas para fenação exclusiva, ou conjugada ao pastoreio, deve-se aliar, sempre que possível, uma boa fertilidade de solo (que resulta de correção após análise), declividade suave e ausência de obstáculos à mecanização. A forrageira adequada à fenação deve ser resistente a cortes baixos e freqüentes e apresentar facilidades para os cortes mecânicos e estrutura que permita secagem rápida e uniforme. As leguminosas possuem fenação mais difícil, pois além de produzirem de 3 a 5 vezes menos matéria seca por área, (quando comparadas as gramíneas) possuem diferenças na desidratação entre caule e folhas. Este problema acaba por fazer com que durante o processo de secagem ocorra uma grande perda de folhas, comprometendo o valor nutritivo da massa seca, já que são as folhas que contém os nutrientes desejados. Por sua baixa resistência a cortes freqüentes, sua consorciação com gramíneas também se torna difícil.

As gramíneas mais utilizadas para a fenação e destacam por terem talos finos, pois permitem secagem uniforme e são Coast Cross, Transvalla, Estrela Africana e Pensacola. Como leguminosa a alfafa é a mais utilizada. Apesar de seu custo elevado, apresenta alto valor nutritivo, alta digestibilidade, além de ser rica em proteínas, cálcio e carotenóides.

Corte ou Ceifa

Como já foi dito, a idade ideal para o corte é aquela onde se conjugam a maior produção de matéria seca com o maior valor nutritivo. Existem dois tipos de cortes. O manual, que é reservado para pequenas propriedades, é feito com alfanjes e foices e o corte mecânico, feito com tratores, que é praticado em áreas maiores. O corte deve ser feito pela manha, não muito cedo, para que o capim esteja livre da umidade do orvalho, em dias de tempo firme e ensolarado. Dependendo da forrageira a ser ceifada, a altura do corte pode variar. Cortes baixos demais podem comprometer o rendimento da massa produzida nos cortes futuros e até mesmo influenciar na vida útil da pastagem. Atenção especial deve ser dada ao cálculo da área a ser ceifada, para que toda massa verde possa ser processada em dois dias, evitando-se assim, qualquer tipo de desperdício.

Desidratação o Enleiramento

A secagem pode ser feita a campo ou artificialmente, e visa reduzir o teor de umidade do material a aproximadamente 15% a 18%, preservando as características da planta, e evitando riscos de fermentação por excesso de água. A massa cortada vai secando exposta ao sol e aos ventos, de forma desigual, pois as camadas inferiores não são atingidas. Por este motivo, para uma secagem uniforme é necessário que a massa seja revirada com garfos ou ansinhos. Essa operação pode também ser realizada com a ajuda do trator. A desidratação se processa até se atingir o “o ponto de feno”, que é reconhecido a campo quando ao se torcer um feixe do material com as mãos, não se detecta umidade. O método mais seguro para identificação do “ponto de feno” é através de análise laboratorial do teor de umidade da amostra.

O enleiramento é o agrupamento da massa vegetal que deve ser realizado se, até o final do dia, não se conseguiu o “ponto de feno”. Amontoando-se toda a massa para protegê-la da umidade do orvalho. No dia seguinte as leiras são desfeitas para que prossiga a secagem até se atingir o “ponto de feno”. É importante lembrar que quanto mais virada a massa, mais rápida e uniforme será a desidratação.

Armazenamento

O feno pode ser armazenado na forma de fardos, solto em galpões, ou a campo quando coberto com lonas e sempre livre da umidade. O enfardamento é mais recomendado pela facilidade no armazenamento, transporte e melhor conservação do material por períodos maiores. Essencial para a conservação da massa fenada, é um ambiente protegido e ventilado, para que se evite a proliferação de fungos (bolores) pela presença da umidade.

Adubação da Área Produtora de Feno

O processo de fenação rouba do solo todos os nutrientes que ele forneceu para o crescimento e desenvolvimento da planta forrageira. Por este motivo, após cada corte, a restituição destes elementos deve ser conduzida com a orientação de um profissional competente, utilizando-se de corretivos e fertilizantes químicos ou orgânicos. Uma qualidade melhor de material fenado se obtém de áreas exclusivas a esse fim, onde temos a alta fertilidade do solo aliada aos processos modernos como a irrigação artificial, garantindo produções durante todo o ano. Essas áreas são chamadas “capineiras” onde se produz o feno para a alimentação, ou também chamado feno de primeira. O feno para confecção de camas pode ser extraído do sistema de rodízio de piquetes. Quando não se pretende produzir seu próprio feno, o melhor é comprá-lo de um fornecedor idôneo, e para isso é preciso saber identificar suas qualidades. Para se reconhecer um feno de boa qualidade, considera-se ideal a presença maior de folhas (que são a parte nutritiva da planta) em relação aos caules ou talos, coloração verde de tonalidade média, denotando uniformidade na etapa de secagem e a ausência de corpos estranhos e ervas daninhas na massa fenada, traduzindo sua pureza.

O feno deve ser encarado como um produto nobre que reflete diretamente a qualidade da pastagem, quer pelo solo, como pelos cuidados com as forrageiras. O processo de fenação não é apenas uma forma de se evitar o desperdício das pastagens, mas principalmente uma fonte alternativa de rendas. Um mercado extremamente promissor vem tomando forma na medida em que a vontade de se possuir um cavalo começa a se tomar realidade, refletindo uma reestruturação da criação nacional. Instalações e serviços vêm-se aprimorando para melhor atender a esses novos proprietários, que não dispõem, como os criadores tradicionais, de meios para manutenção de seus animais. Crescem o número de pensionatos para cavalos, hípicas e centros de treinamento e o feno passa a participar ativamente do manejo nutricional dos animais estabulados.


Fonte: Arquivo Revista Horse Business
Texto: Andréia Caldeira
Colaboração: Milene Andrade

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